Segundo de quatro irmãos, Pietro Maria Bardi nasceu a 21 de fevereiro de 1900 em La Spezia, pequena cidade italiana no Golfo de Gênova. Diziam que era de poucos amigos e que sua vida escolar foi bastante acidentada. O próprio Bardi declarou, em inúmeras entrevistas, ter sido reprovado quatro vezes na terceira série do ensino fundamental. Abandonou a escola, desanimado pelo insucesso, e atribuía sua inteligência a um acidente doméstico: após uma queda em que feriu a cabeça, tomou gosto pela leitura. Passou a ler absolutamente tudo que podia, hábito que o acompanhou por toda a vida.

Ainda rapaz, Bardi trabalha como operário assistente no Arsenale Marittimo e, em seguida, torna-se aprendiz em um escritório de advocacia. Em 1917 é convocado para integrar o exército italiano e parte de La Spezia para não mais retornar. É nessa fase que ele inicia de fato sua carreira jornalística, antes já esboçada em alguns artigos e colaborações a jornais como Gazzetta di Genova e o Independente e com a publicação, aos 16 anos, de seu primeiro livro, um ensaio sobre colonialismo.

Instalado em Bérgamo desde a baixa na carreira militar, Bardi encontra trabalho no Giornale di Bergamo. Mais tarde, integra a equipe do Popolo di Bergamo, Secolo, Corriere della Sera, Quadrante, Stile e muitos outros. Escrever foi sua principal atividade profissional até a morte, a maneira encontrada para manifestar seu estilo polêmico e a crítica baseada no conhecimento profundo e na vivência cotidiana da arte, da política e, principalmente, da arquitetura.

Em 1924, Bardi transfere-se para Milão e casa-se com Gemma Tortarolo, com quem tem duas filhas, Elisa e Fiorella. É em Milão que ele começa uma aventura como marchand e crítico de arte, com a aquisição da Galleria dell’Esame. Funda em Milão a Galleria Bardi, em via Brera, onde apresentou vários artistas. Em 1929 torna-se diretor da Galleria d’Arte di Roma e muda-se para a capital. Trazendo uma exposição a Buenos Aires, passa pelo Brasil pela primeira vez em 1933. É nessa ocasião que vê a Avenida Paulista,futuro endereço do MASP.

Após a II Guerra Mundial, Bardi conhece a arquiteta Lina Bo no Studio d’Arte Palma, em Roma, que Bardi havia criado em 1944, importante centro de pesquisa e venda de arte. Ele divorcia-se e casa-se com Lina em 1946. No mesmo ano iniciam a aventura da vinda para o Brasil, país com a perspectiva de prosperidade e cenário de uma arquitetura talentosa e promissora, situação oposta à da Europa, que amarga a reconstrução nos anos pós-guerra. O casal parte de Gênova a bordo do cargueiro Almirante Jaceguay, trazendo uma significativa a coleção de obras de arte e peças de artesanato que deverão ser apresentadas numa série de mostras. Transportam também a enorme biblioteca do marchand.

Chegam ao Rio de Janeiro em 17 de outubro do mesmo ano. Com as obras trazidas da Itália, Bardi organiza a “Exposição de pintura italiana moderna”, em cujos salões encontra o empresário Assis Chateaubriand, que o convida para montarem juntos um museu há muito tempo idealizado. De 1947 a 1996 Bardi cria e comanda o Museu de Arte de São Paulo, MASP. Paralelamente, mantém sua atividade de ensaísta, crítico, historiador, pesquisador e galerista. Publica, em 1992, seu 50º e último livro, “História do MASP”. Em 1996, já adoecido, afasta-se do comando do museu. Abatido e com sua saúde debilitada desde a morte de Lina, ocorrida em 1992, ele falece em 1º. de outubro de 1999, tendo cumprido quase um século de vida a provar sua definição de si próprio, em resposta ao parceiro Chateaubriand: “Sim, sou um aventureiro”.